segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Review #13 - Lara os Ultraleves: Em Boa Hora (2015)


Em Boa Hora é o primeiro álbum da banda paulistana Lara e os Ultraleves, que preza criar um som com referências antigas, misturando assim ritmos como R&B, jazz, blues com a nossa MPB. Junção essa que não funciona tanto devido metade das composições líricas do álbum serem em inglês, perdendo um pouco a credibilidade da junção. A sonoridade lembra um bastante a sonoridade criada por Clarice Falcão, sendo bem mais elaborada instrumentalmente (como a música Volta Logo, My Dear, que lembra bastante uma música de comercial), e em contrapartida músicas que lembram o funk brasileiro de Tony Tornado, como Não Tem Volta, ou que remetem à Jovem Guarda, como a música que abre o álbum, Hora de Ir Embora, e até mesmo incrível música nos moldes de um Doo-wop¹ como em Anybody But You. O estúdio no qual gravaram foi o Estúdio 12 Dólares, que também já havia trabalhado préviamente com Léo Cavalcanti em seu disco Despertador, e com a banda Ludov, também produtor do estúdio. Embora algumas músicas caiam em clichês harmônicos, você percebe que a banda traz uma sonoridade diferente no aspecto de instrumentação e arranjo.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

"Zé Pereira" e a origem do carnaval de rua


O Carnaval é realmente um dos maiores eventos que acontece em nosso pais. Grandes festas que fecham as ruas, serpentina pra todo o lado, grupos musicais que participam da festa, como o bloco de Francisco, el Hombre, ou até mesmo músicas icônicas (e irônicas) que lembramos, como o "Unidos do Caralho a Quatro". Além de eventos culturais, como os bonecos de Olinda e o Frevo, o carnaval possui um costume muito comum que vai de ponta a ponta nesse pais, que é o Carnaval de Rua. Curiosamente,  é difícil imaginar que a quadrilha possa ter algo a ver com o carnaval, até porque, quem seria o louco de dançar quadrilha no meio de um bloco de carnaval?  Por isso vamos voltar para o século XIX, no Rio de Janeiro, com um sapateiro português conhecido por José Nogueira de Azevedo Paredes, Zé Nogueira para os mais íntimos. Por sua nacionalidade, Zé estava relembrando das festas e costumes, das quadrilhas portuguesas de sua terra natal com alguns amigos até que, segundo Jairo Severiano em seu livro Uma História da Música Popular Brasileira, "De repente, talvez estimulado pelo vinho, Zé Nogueira propôs saírem todos pelo centro do Rio, onde tinha sua oficina na rua São José, tocando bombos e tambores". Continuando: "Então o desfile realizou-se com grande algazarra e muitos vivas a um tal de Zé Pereira (que podeira ser o próprio Zé Nogueira), alcançando enorme sucesso e repetindo-se nos carnavais seguintes". Quase 20 anos depois do acontecimento, o ator Francisco Correia Vasques iria transforma-lo numa peça intitulada Zé Pereira Carnavalesco, cuja música final ficaria muito conhecida pela mesma que ouvimos hoje, a famosa música "Zé Pereira".

Bibliografia:

SEVERIANO, Jairo: Uma História da Música Popular Brasileira,2008, editora 34

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Review #12 - Meno Del Picchia: Macaco Sem Pelo (2013)


O álbum "Macaco Sem Pelo", do bisneto de um dos mais icônicos artistas da modernidade paulista, Meno Del Picchia, foi o segundo álbum lançado em sua carreira. Nesse álbum em especial, Meno fez questão de articular sua formação em antropologia¹ (no qual estava realizando sua tese de mestrado em que pode acessar clicando aqui), o que pode explicar toda a influência que o álbum possui, que vai de ritmos latinos a ritmos regionais brasileiros, como em Vou para o Pará, o qual mistura, em parte da música, a música cubana com o carimbó² paranaense. Essa música em especial me fez lembrar do álbum "Ópera do Malandro", do Chico Buarque, de 1979. Estéticamente, o álbum consegue mostrar o leque de referencias musicais que Meno Del Picchia conseguiu misturar, podendo lembrar desde um indie rock na música Macaco Sem Pelo e Seleta até um rock no "estilo d'Os Mulheres Negras" na música Alergia (que por coincidência tem a participação especial do próprio André Abujamra). A produção ficou por conta do próprio tecladista Otavio Carvalho, o qual fez excelente trabalho. As músicas, mesmo caindo em clichês harmônicos, conseguem salvar pelas variações, tanto melódicas quanto rítmicas (visto que o compositor aborda um leque de possibilidades). 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Review #11 - Ed Motta: Entre e Ouça (1992)



O terceiro álbum do compositor de funk/louge/jazz music brasileiro mais consagrado de nosso Brasilzão foi o álbum escolhido de nossa decima primeira review. O álbum marca a forte influencia de composições no estilo funk/louge jazz no álbum, tal como a marcante guitarra suingada, que permearia em suas futuras composições. É um álbum que não cai em clichês harmônicos e, embora as composições sejam "padrões" para o gênero, Ed ainda consegue dar um toque diferente nas composições, como por exemplo o solo de vibrafone nas músicas Nú Que Vale e Entre e Ouça, instrumento esse que é muito utilizado no jazz. Característica interessante foi a "língua" na qual Ed Motta cantou algumas músicas, apelidada por ele como "Ed Mottes", que nada mais é que a técnica de scat¹. O álbum foi produzido por Bombom, o qual já produzira seus primeiros CDs, também sendo produzido na Warner Music Group, que ficou sendo responsável pela distribuição. Já em meados de 1993 Ed encerraria o contrato com a gravadora, porém, foi um dos maiores sucessos da gravadora, que ainda relançou em 2003. Apesar da produção executiva não ter apreciado o álbum, tal como gravadoras, rádios e afins, não é equivocado dizer que foi um álbum divisor de águas na carreira de Ed Motta (que também é marcada com grandes polêmicas). Um álbum relaxante, para escutar em dias chuvosos, fazendo jus à capa do álbum, um aconchegante lar para ouvir uma música aconchegante.  


¹ Para entender a técnica do scat: É uma técnica que consiste em criar um solo de voz similar ao de um instrumento, na maioria das vezes não utilizando palavras. Um grande exemplo são as músicas de Scatman John, o qual misturou a técnica do jazz com o techno music na década de 1990. Recomendação de música:

 https://www.youtube.com/watch?v=Hy8kmNEo1i8

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Review #10 - Rogério Skylab: Skylab I (1999)


O cômico álbum de Skylab, "Skylab I", foi o segundo álbum de Rogério, sendo este o primeiro álbum de uma série, que teve seu fim até o décimo álbum, "Skylab X". Pouco conhecido, até mesmo inacessível em algumas plataformas de som, foi difícil achar o álbum. Embora não seja o mais mainstream, é um dos álbuns mais consagrados pelos fãs, até por conter os hits Matador de Passarinho (que futuramente se tornaria o nome de um programa apresentado pelo próprio Rogério) e Moto-Serra. Foi gravado pelo lendário Robertinho de Recife, que claro, todos conhecem por trabalhar com Moraes Moreira, Xuxa e Lulu Santos Hermeto Pascoal, Zeca Baleiro, Martinho da Vila, e internacionalmente com George Martin (considerado o quinto beatle), Andy Summers, entre outros. Apesar das músicas possuírem nomes tenebrosos, e até mesmo letras tenebrosas, o ar cômico e o estilo de canto sprechgesang¹, mudam totalmente o ar sombrio. Skylab aproveita os mais variados estilos em suas músicas. Harmonicamente as músicas deixam muito por esperar, mas no quesito estilo, o autor consegue muito se expressar bem, caminhando desde o brega clássico de Roberto Carlos até um chorinho na música Pedigree. Ótimo álbum pra quem curte músicas cômicas e humor negro.

¹Sprechgesang é uma técnica de voz expressionista que consiste em executar um "canto falado". Abaixo deixo o link para a peça "Pierrot Lunaire" do consagrado autor Arnold Schoenberg, precursor da música expressionista.

https://www.youtube.com/watch?v=bd2cBUJmDr8

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Review #9 - Forfun: Polisenso (2008)

O segundo álbum da banda carioca e consagrado um dos melhores em quesito de discografia, foi onde a banda realmente "começou". Alguns hits como Sol ou ChuvaEremita Moderno, O Viajante, Dia do Alívio e Panorama mostraram a nova cara da banda, que passava de uma banda de hardcore para uma banda que, a cada música, diversificou seu estilo. Seja o funk rock de Eremita Moderno até o reggae-rock groovado de Ai Sim, passando até mesmo por um salsa-rock coma música Escala Latina. Ainda assim remetem bastante o estilo de seu último álbum, com a música Dia do Alívo. A mudança na função de Vitor Isensee também ajudou muito nos arranjos, visto que passou de guitarrista para tecladista da banda, abrindo assim mais oportunidades nas composições da banda. Uma curiosidade sobre Polisenso é que foi o único álbum gravado e produzido independente (exceto pelo álbum Das Pistas de Skate às Pistas de Dança, porém não é considerado um álbum oficial). Suas composições não caem em clichês harmônicos (salvem alguns exemplos melódicos) nem mesmo rítmicos, demonstrando grande evolução de um álbum para outro.

Para conferir a review do primeiro álbum, Teoria Dinâmica Gastativa, acesse o link abaixo:


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Review #8 - Circo de Marvin: Modo Hard (2015)


Modo Hard é o segundo álbum lançado pela banda baiana Circo de Marvin. Um som com várias pegadas, que provavelmente irá se identificar com alguma, seja o funk rock de Modo Hard e Caroline, ou o rock pesadíssimo de Foi Mal e Vai lá. É difícil escolher uma música para dizer que é a favorita no álbum, do modo que, quando você está ouvindo o álbum e vai se dar conta do que está ouvindo, já está na música Filme de Vida. Uma produção, direção e mixagem impecáveis para o estilo de música que a banda buscou seguir. Não é muito difícil descobrir as referencias musicais de onde a banda bebeu para fazer as composições, que por visto foram muito elaboradas. Letras que, como de praxe para o estilo musical, sempre contam histórias (ou possuem uma história por trás, como Modo Hard, Leve), e claro, fazem crítica aos nossos costumes contemporâneos, etc. É bem visível que não é uma mera adaptação de um estilo ou moldes musicais norte-americanos, e sim uma releitura muito bem feita de uma realidade que todos nós vivemos, e não temos escolha senão viver e fazer daquilo um jogo, um desafio. Ótimo álbum para dar aquele impulso no dia, com letras revigorantes e muito bem direcionadas.

Link para o videoclipe da música Modo Hard:

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Review #7 - Charlie Brown Jr: Transpiração Continua Prolongada (1997)


"Transpiração Conntínua Prolongada" foi o primeiro álbum da banda santista mais conhecida de nosso Brasilzão. Produzido por Rick Bonadio (sim, o mesmo cara do Midas Music) que também trabalhou com o CPM 22, Fresno, NX Zero (coincidência não?) e claro, com o fenômeno da década de 1990, Mamonas Assassinas. Assim como seus próximos discos, para uma estréia, foram mais de 200.000 vendas, alcançando assim o disco de platina. Um álbum com sonoridade excelente para um primeiro álbum, e provavelmente alcançou todas as expectativas da banda. Os ritmos variam desde hard rock até funk rock, rap rock, reggae, com direito a técnicas sonoras como scratch, e até mesmo com a participação especial do grupo Câmbio Negro na música Lombra. É bem notável as influencias musicais norte-americanas na sonoridade da banda, porém a banda conseguiu "abrasileirar" tão bem que fica irreconhecível, e quem sabe pode soar até melhor. Por falar em influencias, era imprescindível que ali estaria surgindo uma nova sonoridade, que mais tarde seria conhecida como música caiçara, e claro, iria influenciar muitas bandas até hoje. As composições não caem em clichês harmônicos, foram criativos no quesito sonoridade enquanto composição. É um álbum chave quando se fala em funk rock nacional. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Recomendações #2

Olá a todos, hoje estarei postando mais três recomendações para curtir no fim de semana. Lembrando que não serão reviews, e sim recomendações, com breves comentários sobre cada álbum

Preço Curto, Prazo Longo (1999) - Charlie Brown Junior



Álbum decisivo na carreira da banda santista. Conta com os sucessos Te Levar Daqui (que todos nós escutamos em Malhação), Zoio de Lula e Não Deixe o Mar te Engolir.

Verbaliza (2015) - Vibehouse



Outra banda santista que, no caso, está ganhando seu espaço aos poucos. Com os hits sendo Sereia, Verbaliza e Raias e Corais, é um ótimo som para relaxar, além de ser bem produzido.

Braza (2016) - Braza



Nova banda com alguns dos ex-integrantes do Forfun. O som não é o mesmo, mas não quer dizer que isso seja ruim, afinal, estamos falando de Forfun!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Review #6 - Toni Tornado: B.R.3 (1971)


Foi na década de 1970 que a música brasileira passava por uma fase difícil (devido à censura do regime militar, principalmente pelo governo de Médici) enquanto, em contrapartida, passava por uma fase de ouro. Tim Maia já lançava no começo da década seu primeiro álbum, em 1970, dentro dos padrões, sem letras "subversivas". Já Toni se utilizava do veículo para cantar suas críticas, como em Juízo Final, primeira faixa do álbum, e B.R.3, música que ganhou o "V Festival Internacional da Canção" um ano antes do lançamento do álbum. É evidente que Toni foi a versão "abrasileirada" de James Brown, até mesmo por sua ativismo, o qual já havia presenciado enquanto estava no EUA, na década de 1960. Um exemplo bem nítido desta causa acontece na letra doJuízo Final, em que canta: "Bebedouro mata sede, não escolhe cor". O álbum foi gravado pela Odeon Records, hoje no Brasil tendo o nome de EMI Music. No quesito sonoridade, você percebe muito bem que, diferentemente de Jorge Ben Jor, Toni apresenta apenas elementos da música norte-americana, assim como Tim Maia. O álbum foi um marco para o funk/soul brasileiro por não só apresentar um novo estilo no país como dando continuidade aos movimentos de igualdade racial e ativismo político, que infelizmente não ganhou tanta força quanto nos EUA.